terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Transformados pela educação

Ela morava num pequeno povoado baiano, chamado Raspador, no município de Ribeira do Amparo. Filha de um pobre casal de lavradores, Marcia não podia visualizar um futuro diferente de seus pais. As rachaduras no solo denunciavam o clima árido e o sol escaldante, que ela teria que enfrentar todos os dias, se quisesse continuar acreditando na educação. Com Adair também não foi nada diferente. Morador da fazenda Cantinho do Céu, em Pocrane (MG), suas escolhas se limitavam a uma bicicleta ou cavalo para ir à escola.

Com a visita do diretor do Educandário Espírito-Santense Adventista (EDESSA), Adair Nazareth, 36 anos, teve sua vida completamente mudada. “Ele estava visitando alguns alunos que moravam perto de casa. Quando me viu, ele se interessou por mim e me levou para o internato. Eu tinha 11 anos.” No EDESSA, Adair concluiu o Ensino Médio e o curso de contabilidade.

Enquanto isso, Marcia Marques, 34 anos, recebeu um convite que mudaria a sua vida. “Eu tinha dois irmãos que estudavam na Faculdade Adventista da Bahia (FADBA). Minha irmã viu o meu interesse e me chamou para estudar; larguei tudo e fui morar no Lar de Meninas, que era mantido por Milton Afonso, o dono da Golden Cross.”

Confira entrevista de Milton Afonso à revista Diálogo Universitário.

Marcia estudou Enfermagem no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP). Do outro lado, Adair Nazareth, após permanecer no EDESSA, dois anos, trabalhando como preceptor, espécie de tutor de crianças, foi para o UNASP, mesmo sem nada garantido. Lá ele procurou um lugar para morar e, devido a sua persistência, ganhou uma bolsa para estudar Matemática.

Vindos de uma origem semelhantemente humilde, Adair e Marcia se encontraram no UNASP, e deram um passo a mais em suas vidas. Casaram-se em 2003, e são pais de duas lindas garotas, Melyssa, 1 ano, e Náthaly, 2 anos.

Hoje, Adair é gerente das Finanças Estudantis da FADBA. E Marcia, além de trabalhar como enfermeira na região de Cachoeira (BA), é professora do curso de Enfermagem da FADBA, e recentemente foi aprovada para o mestrado em Enfermagem pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

EXEMPLO DE SUPERAÇÃO

Todos os dias, Rosana Fontes, 23 anos, enfrentava várias horas até chegar à escola mais próxima de sua casa. Nascida e criada no povoado Colônia Roberto Santos, no município de Inhambupe (BA), Rosana enfrentou muitas dificuldades para prosseguir seus estudos. Filha de lavradores, ela e suas irmãs, ajudavam seus pais nas tarefas domésticas.

Os desafios não desanimaram Rosana. Ao ouvir falar sobre a Faculdade Adventista da Bahia, ela sonhou em continuar seus estudos em uma instituição de ensino superior. “Meus pais eram pobres, e não podiam pagar uma faculdade para mim. Então, tentei por várias vezes conseguir uma bolsa de estudos.” Finalmente em 2008, Rosana ganhou uma bolsa para cursar administração na FADBA.

 “Aprendi a pensar, pois eu não tinha visão de mundo. Mudei minha opinião e hoje vivo melhor.” Agora, funcionária da Faculdade Adventista e já graduada em Administração, Rosana foi a primeira da família a ter um curso superior, e pretende continuar os estudos, fazer uma especialização e um mestrado. “Quero estudar sempre, e influenciar outros a estudar, para terem a vida mudada como a minha foi”, disse.

VIDA EM PROL DA EDUCAÇÃO

Nascida e criada na cidade de Juazeiro (BA), a professora Miralva dos Santos e seus nove irmãos, sempre foram influenciados a estudar. Ao ver alguns jovens vendendo livros, ficou impressionada com a possibilidade de sair de casa e estudar em um colégio adventista. Ela fez parte de um projeto que se chama colportagem, onde estudantes vendem livros para pagar os seus estudos.


Em 1967, Miralva foi estudar no Educandário Nordestino Adventista (ENA), onde cursou Teologia. Quando se formou, em 1970, ela foi dar aula em diferentes cidades. Em junho de 1982, Miralva foi para a Faculdade Adventista da Bahia, onde dava aulas de religião. “Quero aprender mais sobre o ser humano para ser uma melhor educadora.” E com esse pensamento, foi para Vassouras (RJ) fazer uma pós-graduação. Miralva se tornou também professora universitária para o curso de Teologia no Seminário Latino-Americana de Teologia (SALT-IAENE), e mora atualmente em Cachoeira.

“Meu sonho sempre foi trabalhar com educação, e me preocupava em educar não só para essa vida, mas para a vida eterna.” Em outubro de 2001, foi diagnosticada com câncer de mama, e declarou que os seus alunos foram a maior influência para a sua melhora. “Fui salva pela oração e pelo cuidado dos meus alunos.” Ela ainda acrescenta: “Tudo o que sou hoje, devo à educação, que mudou minha vida completamente”.

FERRAMENTA TRANSFORMADORA

Daniela Reis, professora de pedagogia da FADBA, defende que a educação precisa ser “acessibilizada, especialmente às pessoas mais humildes para que tenham a possibilidade de ascender ao longo de sua vida”.

Segundo o professor e coordenador do curso de administração da FADBA, Ricardo Costa, “a educação é uma ferramenta transformadora. Percebemos isso quando vemos pessoas que vieram de famílias humildes, e de realidades bem difíceis, que através da educação conseguiram transformar a sua própria realidade”.

[Colaboração de Wiliane Passos e edição de Daniel Cruz]